A nova direita ganha força na Holanda

Thierry Baudet, jovem líder do Fórum pela Democracia, vence eleições regionais e chega ao Senado com 12 assentos, desbancando o Geert Wilders.


As eleições regionais holandesas desta quarta-feira causaram uma reviravolta no panorama político do país. O Fórum pela Democracia, um partido eurocético que defende fechar as fronteiras, frear a imigração e proteger os valores nativos, chegou ao Senado com 12 assentos. Não tinha nenhum até agora, mas já forma uma nova direita, encabeçada por Thierry Baudet, de 36 anos, que desde 2017 conta, isto sim, com dois deputados na Câmara Baixa. Disposto a desbancar seu rival mais conhecido, Geert Wilders, o líder  do Partido pela Liberdade, Baudet conseguiu que a coalizão governante de centro-direita perdesse a maioria no Senado – serão apenas 31 senadores governistas, 7 aquém da maioria absoluta. Aprovar qualquer lei agora ficará muito mais difícil.

Na Holanda, os partidos escolhidos nas eleições regionais têm a atribuição de eleger internamente os senadores nacionais. Baudet tirou votos de Wilders e dos liberais de direita, o maior grupo do país, do qual faz parte o primeiro-ministro Mark Rutte. O líder antimuçulmano conseguiu 5 assentos; Rutte, 12, assim como Baudet, mas com menos votos, porque venceu em províncias menos populosas. Também estragou a festa da Esquerda Verde e do seu chefe, Jesse Klaver, que parecia embalado durante a campanha eleitoral. Embora salte de 4 para 9 senadores e supere o resto da esquerda, não foi páreo para o novo astro direitista.

Na noite da quarta-feira, com os votos recém-apurados, Theo Hiddema, que compõe com Baudet a atual bancada do Fórum no Parlamento, falou de “uma nova primavera e uma nova melodia”. Seu chefe se fez esperar. Preparava um discurso de vencedor, e durante 20 minutos afirmou em tom presidencial que “fomos chamados à primeira fila porque o país precisa de nós, e a etapa das cessões políticas acabou”.

Elogiou o “magnífico povo do qual fazemos parte, com centenas de milhares de anos de história, e que foi traído por seus governantes”. Criticou “a entrada de milhares de pessoas que vêm de culturas opostas à nossa, como se já não tivéssemos problemas suficientes com a imigração”. Descartou “a feitiçaria do clima, a idolatria do sustentável e a doutrinação da esquerda” e disse: “Somos o partido do renascimento [da Holanda e da democracia]”. Vestido de azul com gravata combinando, o dedo indicador direito erguido era ao mesmo tempo um sinal de força e uma advertência aos seus rivais.
O direitista Geert Wilders cai

Desbancado por um jovem quase recém-chegado, Geert Wilders, de 55 anos, acusou o golpe e tentou revertê-lo. “Agora que um novo partido soa parecido com o nosso, a perda de assentos [de nove para cinco] é mais contida. O estilo único do partido continuará sendo notado”, disse, com aspecto cansado. O político se separou em 2004 dos liberais de direita para fundar seu Partido pela Liberdade, hoje a segunda força política da Holanda.

Wilders tem 20 assentos no Congresso, mas ninguém quer pactuar com ele. Daí que toda sua carreira política se desenvolveu na oposição, exceto em 2010, quando garantiu a sustentação parlamentar ao primeiro Gabinete de Rutte, que estava em minoria. A crise financeira lhe passou a fatura, e em 2012 Wilders retirou seu apoio. O Governo caiu, e novas eleições foram convocadas.
Baudet, um neófito que toca piano no seu gabinete

Comparado a isto, e com a constante proteção que cerca o líder, ameaçado de morte, Thierry Baudet é um neófito. Ainda não sofreu o calafrio do seu batismo político. É o único que não suspendeu a campanha eleitoral depois do ataque armado de segunda-feira passada em Utrecht, que deixou três mortos e cinco feridos graves, e sobre o qual ainda não se sabe se foi um ato terrorista. Formado em História e doutorado em Direito, é filho de um pedagogo musical. Gosta de citações latinas e costuma tocar piano em seu gabinete oficial. Seu apelo ao eleitor para que “faça algo pela Holanda” deixou o Governo em apuros.

Até agora, não para de subir. Em 2017, seu partido tinha 1.863 filiados. Em 2019 já passavam dos 30.000. Por outro lado, a democracia direta à base de referendos, uma proposta sua, e seu desejo de formar um Governo “com especialistas apolíticos” lhe rende bons resultados junto ao eleitorado. Rutte teve que batalhar muito para chegar ao cargo e preferiu evitar qualquer referência ao rival. Felicitações à parte, prefere salientar que “os liberais de direita continuamos sendo o primeiro partido, o verdadeiro partido do povo”. Baudet, que tem pressa, chamou-o de “homenzinho disposto a tudo por um pacto”.

Fonte:https://brasil.elpais.com/