Decidi reunir o máximo possível dos desenhos que pude encontrar em sites em português, Inglês, espanhol e em Japonês, para compor esta postagem...
Notas do Tradutor com Trechos do Texto contido na própria Imagem. As idades que aparecem em várias legendas, são de quando os sobreviventes vivenciaram a tragédia.
O objetivo deste longo post além de informar, é claro, é fazer um tipo de arquivo, já que esse material está aos poucos desaparecendo da web Japan. Peço desculpas pelo tamanho do post, pois ao publicar tudo de um única vez, imagino que se torne brutalmente cansativo ao leitor, mas isso me livra de ter que tratar novamente deste tema, que para mim, foi por demais doloroso...
Atenção! Apesar de ser uma lista de desenhos, advirto que as imagens são extremamente perturbadoras e podem ferir a sensibilidade do leitor.
Segue adaptação:
"Nos anos de 1974, 1975 o canal de TV NHK, decidiu reunir 72 sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima, para que desenhassem as sua lembranças.
O resultado foi tão impactante, inédito e de tamanha importância que culminou na publicação do livro "Kami hi" (Literalmente "Monumento de papel" - título em Inglês: Written Monument), rememorando os 35 anos do ataque.
Os dramáticos desenhos são acompanhados de relatos, impressões e descrições que os sobreviventes testemunharam do evento e suas consequências, nos mostrando todo o indescritível terror que uma bomba atômica pode provocar.
Susumu Horikoshi - 8 anos - A crescente nuvem em forma de cogumelo, de cor prata brilhante sob o sol de verão.
Kiyoyoshi Goro - 48 anos na época - Uma hora após a explosão, o céu estava negro e tudo estava envolto em chamas.
Shoichi Furukawa - 32 anos anos na época - 'Haviam muitas pessoas deitadas uma ao lado da outra. Alguns já estavam mortos. Aqueles que ainda estavam vivos pediam: 'Água, água.' Eu derramei um pouco d'água do meu cantil na boca da mulher à direita, mas ela não bebeu. Seus olhos estavam abertos, mas ela estava morta. As larvas estavam se movendo em suas feridas. Quase todos mal respiravam e não estavam sendo tratados por ninguém.'
Tasaka Hajime -15 anos na época - Uma mãe pede água desesperadamente para seu filho, ambos queimados e com a pele coberta de bolhas.
Takeda Hatsue -15 anos na época - Pessoas queimadas e com os cabelos ainda em chamas correm pelos trilhos do trem.
Nakano Ken'ichi - 47 anos na época - Cadáveres ao redor de um trem, só um sobreviveu e pedia água.
'...Ouvi um fio de voz e adentrei o trem, onde encontrei mais de 14 pessoas mortas em um vivo que me pediu água. Saí, mas não encontrei água nas proximidades e como precisava procurar pelos meus, eu deixei o veículo para trás...Voltei à tardinha e aquele que estava vivo de manhã, já havia partido para o além...'
'...Ouvi um fio de voz e adentrei o trem, onde encontrei mais de 14 pessoas mortas em um vivo que me pediu água. Saí, mas não encontrei água nas proximidades e como precisava procurar pelos meus, eu deixei o veículo para trás...Voltei à tardinha e aquele que estava vivo de manhã, já havia partido para o além...'
Tsutomo Kojiri - 4 anos - A cúpula e o portão xintoísta foram as únicas construções em pé da antiga cidade.
'...Nos arredores da cidade, eu vi soldados empilhando e incinerando corpos em fogueiras montadas sobre chapas galvanizadas...'
'...O senhor soldado disse: 'Não olhem para baixo! Segurem firme em mim...' Assim que nós três seguramos na cintura do soldado e com muito medo atravessamos...'
Michitsuji Joshiko - 20 anos - Pessoas saem de suas casas envoltas em chamas.
Ishikawa Fumie -16 anos - Crianças mortas na escola. '...Pessoas mortas no corredor da escola um dia depois da explosão...Um criança jazia morta em pé, escorada em um porta-guarda-chuvas...'
Takahashi Akihiro -14 anos - O autor passando por uma ponte com um amigo. Seu amigo estava com os pés queimados e foi preciso que ele atravessasse a ponte engatinhando.
'...Um pequeno bebê tenta mamar na mãe caída e ao olhar para ela, notei que estava morta...', '...O cavalo estava com o corpo todo queimado e esperneava agonizando. Era doloroso só de olhar...'
'...As casas desabavam sobre as pessoas e o ar se encheu de gemidos de dor naquele mar de fogo que se tornou Hiroshima...'
Ikue Yamada - 12 anos - Uma mãe foge das chamas com o seu filho nos braços.
'...Dia 7 de agosto.
Por volta das 2 horas da tarde, um rapaz estrangeiro foi espancado até à morte na ponte Aioi...'
Akira Araki - 37 anos - Um estudante com a perna mutilada. '...Na plataforma de embarque da estação de Hiroshima, aos pés das pessoas que para lá foram se abrigar, havia um estudante gritando: 'Por favor, me ajude'. Até hoje eu não consigo esquecer aquela voz...'
Mitsuko Taguchi - 30 anos - Corpo carbonizado de uma mãe que tentou proteger seu filho. '...Seus cabelos arrepiados, a criança sob o seu corpo e seus olhos abertos como se estivesse viva, foi algo tão inacreditável que eu nunca mais esqueci daquela cena...' (Texto Da Imagem. NDT. rusmea.com)
'Um homem que se parecia com um guardião de um templo mítico, arrastava lentamente os pés na minha direção. Ele ainda usava uma tanga e polainas rasgadas em uma perna. Suas roupas haviam queimado e estavam em farrapos, deixando-o praticamente nu. Um olho havia saltado para fora de seu rosto inchado de um vermelho brilhante.'
'Ela gritava para os seus vizinhos, 'Salvem a minha mãe.' Três homens não poderia ter movido aquela viga. As chamas estavam se movendo rapidamente. Não havia nenhuma maneira de salvá-la. Eu juntei minhas mãos em oração e disse: 'Por favor, me perdoe,' e saí.'
Shigeru Miyoshi - 40 anos no tempo do
bombardeio e 70 no momento em que fez o desenho - Se ela estivesse viva agora, ela seria uma mulher de 35 ou 36 anos.
'Hiroko, não desista, seja forte. Namu Amida Butsu, Namu Amida Butsu'.
Hiroko... Apenas com a cabeça para fora do teto caído em que estava presa, era uma menina de 5 ou 6 anos.
Chieko Matsumura - 33 no momento do bombardeio, 62 anos no momento do desenho - Haviam cerca de 20 estudantes imobilizados. 'Quando eu me arrastei para fora do prédio da escola caída, tudo ao meu redor estava escuro. Chamas vermelhas e negras estavam se alastrando perto da sala de ciências.
De uma fresta na coluna do edifício escolar destruído, um aluno colocou a cabeça e o braço direito para fora. Ele estava pedindo ajuda nos limites de seus pulmões. Em torno dele eu podia ouvir outros alunos gemendo. Eu tentei ajudar, mas a argamassa apenas desmoronava. Eu não podia fazer nada sem a ajuda de mais alguém. Eu ainda posso ouvir as vozes chamando: 'Professora, me ajude.' Eu mal posso suportar.'
Kazuno Mae - 26 anos no momento do bombardeio, 56 anos no momento do desenho - Entre as multidões de feridos, eu vi uma jovem mãe triste. Seu filho havia morrido enquanto fugiam.
Agora, ela estava com a cabeça coberta por um pano preto. Quando ela pegou a corda de palha que ela usava para amarrar o seu bebê morto às suas costas? Ela arrastava-se sob o sol escaldante. Gostaria de saber para onde ela estava indo.
Kazuo Akiyama - 34 anos - Uma mulher com o corpo queimado tentando abrigar seus dois filhos - 1.200 metros do hipocentro, perto de Tenma-cho (Tenma-cho, Nishi-ku) 7 de agosto de 1945 - Uma mãe e seus dois filhos que haviam sido engolidos pelas chamas enquanto estavam tentando fugir. Ela havia se curvado ao chão, puxando as crianças para debaixo dela e assim foi como eles morreram. Os dedos das crianças estavam cravados profundamente na pele de sua mãe.
Kazuo Matsumuro - 32 anos - Uma garota que morreu enquanto pedia água perto da ponte de Tsurumi - 1.700 metros do hipocentro, linha de bonde de Hijiyama - 6 de agosto de 1945, em torno das 14:00 - Quando passei perto dela, ela debilmente pediu água. 'Não desista, soldados estarão aqui em breve' Eu disse de forma encorajadora, enquanto eu passava. Quando eu vi ela 20 minutos mais tarde, ela já estava morta. Nas proximidades havia um soldado cujo rosto estava meio enfaixado e ele possuía um monte marcas por todo o corpo.
Toshiko Kihara - 17 anos - Cadáveres carbonizados em torno do bonde - 1.300 metros do hipocentro, Tenma-cho 7 de agosto de 1945 - 'Meus olhos pousaram sobre um bonde de cor vermelho fogo, parado em Tenma-cho. Espalhados ao redor do veículo e no interior, haviam pessoas queimadas como carvão. Carvão humano. Eu não podia acreditar nos meus olhos enquanto eu observava os soldados cobrindo os corpos com esteiras de palha. Como uma cidade inteira podia virar carvão e cinzas em um instante? O choque me fez sentir vertigens.'
Shunsuke Makino - 29 anos - Cadáveres dos passageiros ainda sentados em seus lugares - 'Olhando para um bonde que havia sido explodido, vi a maioria do corpos sentados. Um no entanto, ainda estava pendurado pela alça de mão.'
Shunsuke Makino - Recolhendo em barcos, o enorme número de cadáveres flutuando no rio.
Tokiko Kuwamoto - Professoras e alunas da Escola Municipal em uma cisterna - '8 de agosto, Zaimoku-cho. Eu encontrei minha criança vítima do ataque aéreo nas cercanias do templo Senganji. Os globos oculares das estudantes da escola municipal de meninas, haviam saltado das órbitas e estavam pendurados nas maçãs dos seus rostos. Uma professora havia colocado as estudantes dentro da cisterna e as cobriu com o próprio corpo. Instintivamente, eu juntei minhas mãos em prece.'
'8 de agosto, perto de Misasa-machi. Encontrei a Sra. Kato. Ela disse que um pedaço de madeira de barril havia acertado a cabeça de Masako-chan (uma estudante de primeiro ano na escola de meninas e uma boa amiga da minha filha) e provavelmente a matou instantaneamente. Quando a Sra. Kato tentou puxá-lo para fora, gritando 'maldito pedaço de madeira!' o sangue da filha dela começou a derramar, então ela enfiou de volta, colocou-a em um carrinho e empurrou para casa, chorando todo o caminho.'
Shoichi Furukawa - 32 anos - Numerosos cadáveres inchados com a pele soltando, flutuavam na superfície do rio - 'Muitos cadáveres flutuavam no rio que passa perto do santuário Sumiyoshi. A pele havia caído e os corpos estavam tão inchados que não dava para saber quem era homem ou quem era mulher. Um fedor flutuava no ar. Meu peito estava pesado, sabendo que eles seriam varridos para o mar, seus nomes desconhecidos, suas mortes desacompanhadas. Eu juntei minhas mãos em prece.'
Jun Watanabe - 16 anos - Cadáveres carbonizados eram levados um após outro de ruínas queimadas e eram cremados.
Tamaki Ishifuro - 35 anos - Cremando minha própria criança - 'Eu cremei a minha filha mais velha Naoko (3 anos). As lágrimas corriam sem parar. 'Vai na frente, eu vou depois!' Eu juntei minhas mãos em prece. Meu segundo filho Katsumi (9 anos) ainda estava desaparecido. Rezei para que ele houvesse escapado em segurança para algum lugar.
Enquanto ela queimava, o óleo em seu corpo gradualmente fluia. Uma quantidade enorme. Que criança saudável! E que tristeza. Eu não podia ficar para assistir, pois eu achava que iria enlouquecer. Como isso poderia ser o mundo real? Foi um inferno. Eu continuo vivendo por 30 anos me sentindo culpado pelos meus dois filhos mortos. Me perdoem, eu não consegui manter a minha promessa, a responsabilidade de pai. (Eu não tive a coragem.)'
'Hiroko, não desista, seja forte. Namu Amida Butsu, Namu Amida Butsu'.
Hiroko... Apenas com a cabeça para fora do teto caído em que estava presa, era uma menina de 5 ou 6 anos.
De uma fresta na coluna do edifício escolar destruído, um aluno colocou a cabeça e o braço direito para fora. Ele estava pedindo ajuda nos limites de seus pulmões. Em torno dele eu podia ouvir outros alunos gemendo. Eu tentei ajudar, mas a argamassa apenas desmoronava. Eu não podia fazer nada sem a ajuda de mais alguém. Eu ainda posso ouvir as vozes chamando: 'Professora, me ajude.' Eu mal posso suportar.'
Agora, ela estava com a cabeça coberta por um pano preto. Quando ela pegou a corda de palha que ela usava para amarrar o seu bebê morto às suas costas? Ela arrastava-se sob o sol escaldante. Gostaria de saber para onde ela estava indo.
'8 de agosto, perto de Misasa-machi. Encontrei a Sra. Kato. Ela disse que um pedaço de madeira de barril havia acertado a cabeça de Masako-chan (uma estudante de primeiro ano na escola de meninas e uma boa amiga da minha filha) e provavelmente a matou instantaneamente. Quando a Sra. Kato tentou puxá-lo para fora, gritando 'maldito pedaço de madeira!' o sangue da filha dela começou a derramar, então ela enfiou de volta, colocou-a em um carrinho e empurrou para casa, chorando todo o caminho.'
Shoichi Furukawa - 32 anos - Vítimas alinhadas em duas fileiras nos trilhos - 'As vítimas estavam deitadas em duas fileiras sobre esteiras de palha, colocadas sobre os trilhos do bonde em Funairi-machi. Um pepino havia sido colocado ao lado de cada uma das suas cabeças, juntamente com um pouco d'água em uma lata ou em uma tisana de cerâmica. Alguns morreram segurando firmemente a sua comida. Alguns não conseguiam sequer levar a água até as suas bocas. Estas vítimas não conseguiam nem gemer, provavelmente porque suas vozes haviam se esvaído. Haveria alguém para cuidar daquelas 20 pessoas feridas? O que aconteceu com elas? Trinta anos depois e eu ainda lembro daquela cena como se fosse ontem.'
Enquanto ela queimava, o óleo em seu corpo gradualmente fluia. Uma quantidade enorme. Que criança saudável! E que tristeza. Eu não podia ficar para assistir, pois eu achava que iria enlouquecer. Como isso poderia ser o mundo real? Foi um inferno. Eu continuo vivendo por 30 anos me sentindo culpado pelos meus dois filhos mortos. Me perdoem, eu não consegui manter a minha promessa, a responsabilidade de pai. (Eu não tive a coragem.)'
Akira Onogi - 15 anos - Muitas pessoas mortas em torno de uma cisterna - 'Pessoas se agruparam em torno de uma cisterna de armazenamento d'água contra incêndios, para pegarem água, mas depois de beberem, eles morreram no local. O cadáver de uma jovem grávida flutuava na água. Meu peito doeu quando apliquei a tinta vermelha neste desenho.'"
Aqui, anexo algumas páginas da obra prima Gen pés descalços (Hadashi no Gen) de autoria e memória de Keiji Nakazawa.
Atualmente, esta obra está sendo removida de todas as bibliotecas escolares do japão por ordem do governo e na teoria, com o objetivo de não chocar as crianças de hoje em dia, mas na prática, é evidente que o Japão está tentando jogar essa parte da história no esquecimento...
Eu só fiquei sabendo que estilhaços de vidros derreteram e se fundiram nos rostos das vítimas, através desta obra.
Na história, o garoto Gen, a personificação do autor que vivenciou a tragédia, perde quase toda a sua família diante dos próprios olhos sem poder fazer nada.
Atualmente, esta obra está sendo removida de todas as bibliotecas escolares do japão por ordem do governo e na teoria, com o objetivo de não chocar as crianças de hoje em dia, mas na prática, é evidente que o Japão está tentando jogar essa parte da história no esquecimento...