Existem tantas lendas, mitos e histórias que ás vezes fica difícil distinguir a realidade da ficção. Nessa série de matérias nós vamos ver se esses personagens lendários realmente existiram ou se eles foram apenas inventados para o seu entretenimento.
O guerreiro Beowulf ficou famoso graças a um poema, escrito em língua anglo-saxã, por um autor desconhecido, possivelmente no século VIII, cujo apenas um manuscrito existe.
A história do poema se passa na Escandinávia pagã do século VI. Beowulf, um herói dos Geats, vem em auxílio de Hrothgar, o rei dos dinamarqueses, cujo salão de hidromel em Heorot está sob ataque do monstro Grendel. Depois que Beowulf mata o monstro, a mãe de Grendel ataca o salão e é derrotada. Vitorioso mais uma vez, Beowulf vai para casa em Geatland e se torna rei dos Geats. Cinquenta anos depois, Beowulf derrota um dragão, mas é mortalmente ferido na batalha. Após sua morte, eles cremam seu corpo e erguem um carrinho de mão em um promontório em sua memória.
Mas e aí, será que um guerreiro lendário desses foi inspirado por alguém real? Bom, pelo o que se sabe não, Beowulf nunca existiu e ele não foi inspirado em ninguém de verdade, mas o seu poema tem elementos históricos reais, e muitos dos clãs e personagens que aparecem nele realmente existiram, apenas Beowulf não tem raízes históricas que provem a sua existência.
E falando de guerreiros lendários nós não podemos deixar de falar do grande Rei Arthur, dono da espada Excalibur e membro da Távola Redonda.
Segundo fontes galesas, Arthur é o líder dos britânicos pós-romanos que luta contra os invasores anglo-saxões da Grã-Bretanha no final do século V e início do século VI. Ele apareceu pela primeira vez em duas fontes históricas do início da Idade Média, os Annales Cambriae e a Historia Brittonum, mas estas histórias datam de 300 anos depois que ele supostamente viveu.
De lá pra cá muita coisa mudou na história do rei britânico, novos personagens foram adicionados, tais como o mago Merlin, sua esposa Guinevere, seus guerreiros da távola redonda e, claro, sua espada lendária. Mas será que no meio de toda essa lenda existe um fundo de verdade? Bom, ninguém realmente sabe.
A verdade é que especialistas estão debatendo a existência do rei há séculos, e eles nunca concordaram em uma resposta. Assim como Beowulf os acontecimentos ao redor de Arthur realmente aconteceram, mas o rei em si não tem muitas raízes históricas. Não há fontes antigas que digam que ele existiu, mas muitos defendem que se a tradição germânica e celta de lembrar seus reis antigos por centenas de anos na tradição oral é algo a se seguir, ele pode ter sido uma pessoa histórica de verdade, mas nós provavelmente nunca saberemos.
Arsène Lupin é um dos maiores ladrões da cultura popular, ele apareceu em forma de histórias curtas em 1905, escritas pelo francês Maurice Leblanc, e hoje em dia já apareceu em mais de 24 livros oficiais no total.
O ladrão e mestre dos disfarces é sempre descrito como um criminoso cavalheiro, uma força do bem que opera do lado errado da lei mas que tem um coração nobre e bondoso. Além disso ele é um homem charmoso que não vê problemas em flertar com donzelas para conseguir o que ele quer.
Infelizmente (ou felizmente) para os fãs do ladrão ele é inteiramente ficcional. Mesmo assim vale a pena dizer que ele tem várias semelhanças com o também ladrão cavalheiro do escritor inglês E. W. Hornung, A. J. Raffles, cujas histórias foram publicadas de 1898 a 1909 e possivelmente inspiraram a criação de Lupin.
Oda Nobunaga é uma das maiores figuras históricas do Japão antigo, o cara já apareceu em tudo, de livros, filmes e série, até músicas e videogames. Sua aparência e personalidade sempre mudam dependendo de quem o está escrevendo, ele pode ser retratado como um jovem samurai ansioso para mostrar ao mundo seu talento, um estrategista frio e calculista ou um senhor de idade obeso e com gostos peculiares. Mas será que ele existiu de verdade?
Sim! Oda Nobunaga (23 de junho de 1534 - 21 de junho de 1582) realmente existiu, ele foi um daimyō japonês e uma das principais figuras do período Sengoku. Ele é considerado o primeiro "Grande Unificador" do Japão.
Nobunaga era o chefe do poderoso clã Oda e lançou uma guerra contra outros daimyō para unificar o Japão na década de 1560. O cara saiu do conflito como o daimyō mais poderoso de todos, derrubando o shogun Ashikaga Yoshiaki e dissolvendo o shogunato Ashikaga em 1573. Ele ainda conquistou a maior parte da ilha de Honshu e derrotou os rebeldes Ikkō-ikki na década de 1580.
O governo de Nobunaga ficou conhecido por suas táticas militares inovadoras, promoção do livre comércio, reformas do governo civil do Japão e o início do período da arte histórica de Momoyama, mas também pela repressão brutal daqueles que se recusaram a cooperar ou ceder às suas demandas.
Ele faleceu ao cometer suicídio (seppuku) aos 48 anos de idade para evitar ser morto ou capturado por seus inimigos. Interessantemente, no ano de sua morte Nobunaga estava no auge de seu poder e, como o mais poderoso senhor da guerra, ele era considerado o líder de fato do Japão.
Oda Nobunaga
Todo mundo conhece a história da Branca de Neve, uma mulher tão bela que acaba atraindo a fúria de sua Rainha, que decide mata-la. Ela ficou conhecida como um conto de fadas, mas será que ela era só isso mesmo? Afinal histórias da realeza tentando matar outras pessoas existem aos montes ao redor do mundo não é mesmo? Bom, a verdade é que ninguém sabe ao certo, mas existem teorias.
Em 1994, o historiador alemão Eckhard Sander publicou seu livro Schneewittchen: Märchen oder Wahrheit? (Branca de Neve: Conto de Fadas ou História Verdadeira?), alegando ter descoberto um relato que pode ter inspirado o conto de fadas dos Irmãos Grimm.
De acordo com Sander, a personagem Branca de Neve foi baseada na vida de Margaretha von Waldeck (1533 – 1554), filha de Filipe IV, conde de Waldeck-Wildungen (1493–1574) e sua primeira esposa, a condessa Margaret Cirksena de Ostfriesland (1500–1537), filha de Edzard I, Conde da Frísia Oriental. De acordo com os documentos da cidade de Bad Wildungen, ela era famosa por sua beleza. Três cartas sobreviventes de Margaret a seu pai mostram que sua saúde piorou constantemente e ela morreu aos 21 anos em março de 1554.
Rumores da época diziam que sua morte foi causada por envenenamento, no entanto, ao contrário de Branca de Neve, a madrasta de Margaret não poderia estar envolvida, pois a segunda esposa de seu pai morreu em 1546 e ele só se casou novamente em outubro de 1554, por isso muitos não acreditam nessa teoria.
Margaretha von Waldeck
Bom, se a Branca de Neve pode ter existido, então que tal a Cinderella? Sua história basicamente fala sobre uma garota pobre que acaba se apaixonando pela realeza e consegue se casar com um deles, mudando radicalmente seu status social, algo que poderia facilmente acontecer na vida real não é? E aparentemente aconteceu... várias vezes.
Pelo o que se sabe Cinderella nunca existiu, ela é apenas uma versão de uma história muito, mas muito velha. A história de Rhodopis, contada pelo geógrafo grego Estrabão em algum momento entre 7 aC e 23 dC, sobre uma escrava grega que se casou com o rei do Egito, é geralmente considerada a variante mais antiga conhecida da história da Cinderela.
A primeira versão europeia da história foi publicada na Itália por Giambattista Basile em seu Pentamerone em 1634, mas a versão que agora é mais conhecida no mundo de língua inglesa foi publicada em francês por Charles Perrault em Histoires ou contes du temps passé em 1697. Outra versão foi posteriormente publicada como Aschenputtel pelos irmãos Grimm em sua coleção de contos populares Grimms' Fairy Tales em 1812.
Abdul Rahman Ibrahima Sori não é um nome famoso no Brasil, mas ele tem uma história famosa nos EUA. Segundo consta o cara era um escravo nos EUA, mas depois foi descoberto que ele era na verdade um príncipe africano, ele então foi libertado e mandado de volta a África. Parece uma história incrível não é mesmo? E o mais incrível é que ela realmente aconteceu.
Abdul era um príncipe muçulmano Torodbe Fulani nascido em 1762, em Timbuktu, filho de Ibrahima Sori e uma esposa moura. Quando ele tinha apenas cinco anos de idade, seu pai mudou a família de Timbuktu para Timbo (agora localizado na Guiné) e lá em 1776 Ibrahima consolidou a confederação islâmica de Fouta Djallon, com Timbo como sua capital. Abdul estudou em uma madrassa (um tipo de escola) em Djenné e Timbuktu, ele era esperto e falava pelo menos quatro línguas africanas, Bambara, Fula, Mandinka e Yalunka, além do árabe. Ao retornar à sua terra natal em 1781, tornou-se membro do exército de seu pai, sendo nomeado comandante do regimento de uma campanha que conquistou os Bambara. Em 1788, ele recebeu o comando de 2.000 soldados de cavalaria para uma campanha contra os Hebohs, que perseguiam os navios europeus que realizavam o comércio Fulani de escravos cativos de guerra e as colheitas para sustentá-los durante a Passagem do Meio. Embora inicialmente tenha derrotado os Hebohs, mais tarde eles emboscaram sua cavalaria nas montanhas e, recusando-se a fugir, ele foi baleado, capturado e escravizado. Na época de sua captura ele era casado, tendo um filho que em 1828 servia como comandante militar em Timbó.
Ao descobrir sua linhagem, seu dono, Thomas Foster, começou a se referir a ele como "Príncipe", um título usado para Abdul Rahman até seus últimos dias. Depois de passar 40 anos na escravidão, ele foi libertado em 1828 e voltou para a África no ano seguinte, mas morreu na Libéria poucos meses após sua chegada.
Abdul Rahman Ibrahima Sori
No Brasil um nome que muitos conhecem é o de Aleijadinho, sempre descrito como um artista inigualável, capaz de fazer obras incríveis sendo então um importante escultor, entalhador e arquiteto do Brasil colonial. Mas ele sequer existiu?
Como alguns outros nomes dessa lista, existem debates sobre se Aleijadinho realmente existiu ou não. Todos os dados hoje disponíveis sobre ele são derivados de uma biografia escrita em 1858 por Rodrigo José Ferreira Bretas, 44 anos após a suposta morte do Aleijadinho, baseando-se alegadamente em documentos e depoimentos de indivíduos que haviam conhecido pessoalmente o artista, mas sem provas concretas de que ele teria existido. Para piorar a atribuição da autoria da maior parte das mais de quatrocentas criações que hoje existem associadas ao seu nome foi feita sem qualquer comprovação documental, baseando-se apenas em critérios de semelhança estilística com peças documentadas.
Xerxes ficou mais conhecido no Brasil por ser o vilão do filme 300, onde ele foi interpretado por Rodrigo Santoro. No longa ele é mostrado como o poderoso e implacável rei da Pérsia, semelhante a um deus para o seu povo. Mas realmente foi assim?
O rei Xerxes, ou melhor Xerxes I, realmente existiu, ele nasceu em 518 aC e serviu como o quarto rei dos reis do Império Aquemênida, reinando de 486 aC até seu assassinato em 465 aC. Ele era filho de Dario, o Grande, e Atossa, filha de Ciro, o Grande.
Na Batalha das Termópilas em 480 aC, uma pequena força de guerreiros gregos liderados pelo rei Leônidas de Esparta resistiu às forças persas, que eram muito maiores, mas foram derrotados.
Em Artemísio, grandes tempestades destruíram navios do lado grego e, portanto, a batalha parou prematuramente quando os gregos receberam a notícia da derrota nas Termópilas e recuaram.
Depois das Termópilas, Atenas foi capturada. A maioria dos atenienses já haviam abandonado a cidade e fugido para a ilha de Salamina antes da chegada de Xerxes. Um pequeno grupo tentou defender a Acrópole ateniense, mas foi derrotado. Xerxes então ordenou a destruição de Atenas e queimou a cidade. Os persas ganharam assim o controle de toda a Grécia continental ao norte do Istmo de Corinto.
O fim do rei persa só chegaria em agosto de 465 aC, quando Artabanus, o comandante da guarda real e o oficial mais poderoso da corte persa, assassinou Xerxes com a ajuda de um eunuco chamado Aspamitres.
Xerxes I, ou Khshayārsha
Helena, também chamada de Helena de Tróia, era, segundo os gregos, a mulher mais bonita do mundo, cuja beleza teria sido um dos motivos para a famosa Guerra de Tróia (aquela com o famoso Cavalo de Tróia), que teria acontecido depois que Páris de Tróia tirou Helena de seu marido Menelau, rei de Esparta. Mas será que uma mulher tão bela assim realmente existiu?
Não existem evidências de que Helena tenha existido, até porque segundo as histórias ela era na verdade filha de Zeus com Leda, e era irmã de Clitemnestra, Castor e Pollux, Philonoe, Phoebe e Timandra, sendo então apenas um mito.
Fonte:https://www.realworldfatos.com/2023/10/esses-personagens-existiram-de-verdade-3.html